O alto índice de rotatividade no setor supermercadista não deve ser atribuído ao baixo nível de profissionalismo das pessoas, não deve ser atribuído à inexperiência e tão pouco à falta de vontade e de comprometimento desses colaboradores.
O sonho de toda empresa é atrair e reter aos empregados talentosos e criativos. Muitas conseguiram criando ambientes de trabalho dinâmicos e divertidos, onde os colegas e chefes se transformam na segunda família do funcionário, onde o esforço e o compromisso se veem recompensados e a diversidade é recebida sem discriminações
Com a crise econômica e a onda de demissões, é lógico ver como os trabalhadores se vendem ao melhor empregador quando se trata de procurar trabalho.
No momento da tomada de decisões, os olhos costumam se desviar para o pacote salarial, e não para os benefícios ou compensações trabalhistas que as empresas oferecem.
No entanto, hoje em dia, algumas empresas bem-sucedidas oferecem a seus trabalhadores benefícios trabalhistas que vão além do tradicional seguro médico, vale-alimentação ou remuneração de férias, tudo isto com a ideia de ficar com eles por mais tempo.
Entre esses benefícios adicionais, estão oportunidades de formação profissional e de dedicação a projetos pessoais, serviços de lavanderia, infraestruturas esportivas, grupos culturais, programas de assessoria jurídica e financeira, sistemas internos de transporte, descontos em produtos e atrações locais, opções de compra de ações, planos de aposentadoria e fundos de poupança, centros de atendimento infantil etc.
Vários estudos demonstraram que a ideia desta mudança de filosofia empresarial constitui uma boa estratégia para atrair e reter os talentos.
Ao criar um ambiente de trabalho pleno e ameno, os empregados se sentem mais à vontade com o que fazem e com o que os rodeiam, o que permite tanto promover o sentido de companheirismo, colaboração e compromisso entre empregados e chefes, como aumentar a produtividade.
No entanto, o desenvolvimento de um ambiente de trabalho saudável e dinâmico não se dá apenas com a outorga de benefícios trabalhistas extras, também se necessita a adoção de uma cultura corporativa de comunicação contínua, aberta e honesta entre os empregados e a gerência.
Agência EFE
Cultura corporativa positiva
"O segredo para que uma companhia seja um bom lugar de trabalho está no fato de que os líderes tenham a capacidade de criar uma cultura onde os empregados, líderes e gerentes possam confiar uns nos outros", explica à Agência EFE Amy Lyman, diretora da área de Pesquisa Corporativa do instituto Great Place to Work, uma empresa de consultoria internacional que avalia e estuda práticas gerenciais em organizações.
Para fomentar a confiança nas empresas, os líderes devem ser honestos e confiáveis, tratar a sua equipe de trabalho com respeito e garantir que as políticas e práticas do ambiente do trabalho sejam implementadas de forma justa.
Além disso, a base para estabelecer fortes relações positivas está em uma comunicação efetiva; os líderes e gerentes devem manter um contato direto com o seu pessoal, comunicar-se claramente com eles, discutir os valores da empresa, escutar suas propostas, promover a troca de ideias e valorizar os esforços dos empregados.
"Nos bons lugares de trabalho, é permitido aos empregados serem primeiro pessoas e depois trabalhadores. Sob estas condições, estes locais demonstraram ser mais bem-sucedidos que outros, já que os funcionários se mostram orgulhosos de suas conquistas", detalha o especialista.
Os empregados que estão satisfeitos com seus ambientes de trabalho dinâmicos e divertidos costumam se mostrar mais inovadores e criativos, sofrer menos de estresse, sentir-se orgulhosos de suas funções, ser mais saudáveis e experimentar a alegria de ter um trabalho estável.
Por outro lado, nos ambientes pouco motivadores para os empregados, costuma se evidenciar um maior absentismo, mais rotação de pessoal, uma forte resistência perante as mudanças, um baixo nível de inovação, criatividade e vontade de assumir riscos.
Exemplos de rentabilidade
Ficou comprovado que as empresas com uma cultura corporativa positiva registram maiores lucros econômicos que seus concorrentes, e prova deste sucesso são as organizações que fazem parte das "100 Melhores Empresas para Trabalhar de 2010", uma lista publicada anualmente pela revista Fortune.
Entre elas, está o caso da companhia de software SAS, primeira posição nesta lista. Esta empresa leva em conta seus empregados oferecendo-lhes recursos jurídicos e financeiros, assessoria em casos de adoção e situações de separação, referências, programas educativos e esportivos a seus empregados, seus familiares e aposentados.
Benefícios similares recebem os funcionários da companhia de assessoria de investimentos Edward Jones, segunda no ranking, seguida pela rede de supermercados Wegmans.
Por outro lado, o Google, catalogado como a quarta melhor empresa, tem uma visão mais original para seu ambiente de trabalho.
Os empregados da multinacional podem relaxar nadando em uma piscina, jogando bilhar ou videogame, fazendo exercício, comemorando promoções com festas, recebendo uma massagem ou fazendo novos "looks" nas barbearias localizadas dentro da corporação.
Os escritórios do Google contam com "bicicletas ou patinetes para se deslocar de uma reunião para outra, cães, lâmpadas de lava, cadeiras de massagem, balões infláveis enormes etc. Os empregados compartilham cubículos, barracas gigantes e salas de reuniões, e somente há alguns poucos escritórios individuais", diz o Google em seu site.
Existem também quartos de descanso, consultórios médicos, grupos de todo tipo de preferências, redes internas de transporte e notebooks distribuídos para verificar constantemente o e-mail e tomar notas.
Para o Google, o reconhecimento é sua melhor motivação; daí que criaram um ambiente de trabalho divertido e inspirador do qual os empregados se sintam orgulhosos.
De fato, a inovação é estimulada permitindo-se aos engenheiros dedicar 20% de seu tempo para trabalhar nos projetos independentes do qual eles gostem.
As referências também contam para o gigante, que motiva seus empregados a recomendar candidatos para oportunidades de emprego e os recompensam com bonificações por sua contribuição à empresa.
Definitivamente, esta ideia de cultivar uma cultura corporativa sólida e positiva se transformou em uma estratégia para desafiar os estragos da crise econômica e continuar motivando os funcionários a trabalhar em equipe a favor da missão e visão da empresa.
"Quando os líderes promovem a igualdade em tempos de prosperidade ou recessão, compartilhando as gratificações com o pessoal e fazendo todo o possível para evitar demissões, então os empregados tornam-se mais leais e estão dispostos a se esforçar mais pela empresa em momentos difíceis", nos indica Amy.
*Karina Gómez Pernas